O trabalho de estrategistas de webcelebridades

Profissionais cuidam da ascensão dos fenômenos da internet e podem faturar até 20 000 reais por mês

Por Anne Dias
Tais Costa em seu home office, em São Paulo: seus clientes têm mais de 2 milhões de seguidores | <i>Crédito: Rogério Pallatta
Tais Costa em seu home office, em São Paulo: seus clientes têm mais de 2 milhões de seguidores | Crédito: Rogério Pallatta
A paulistana Tais Costa, de 36 anos, estava em ascensão: ocupava um cargo executivo de marketing em uma grande empresa. Conversa daqui, estuda dali e ela viu que o mercado digital, que começava a despontar, poderia ser promissor. Tais, então, decidiu empreender, abrindo uma agência digital. Não, ela não elabora sites, tampouco é blogueira. Ela trabalha nos bastidores, orientando blogueiros e fechando para eles contratos de dar inveja a muito executivo. 

Seus clientes vão de gente comum que busca notoriedade apenas para satisfação pessoal a influenciadores de moda e fitness, que têm milhares de seguidores nas redes sociais. Com a ajuda dela, as pessoas ganham visibilidade e capitalizam seus perfis com poder de influência relacionado a consumo e estilo de vida, um prato cheio para anunciantes.

Tais dá as diretrizes de comunicação para seus clientes, que, juntos, somam mais de 2 milhões de seguidores só no Instagram, e cuida da imagem deles. “São pessoas que viraram webcelebridades de repente e que não têm nenhum conhecimento na área comercial e de comunicação. Tínhamos de um lado a empresa com profissionais preparados, e, de outro, uma pessoa que não sabia seu valor nem poder de alcance, era desleal”, diz Tais. 

A empreendedora e outros executivos estão criando uma nova profissão: estrategista de webcelebridades, os influenciadores que mudam o jeito como o marketing vem sendo desenhado. “O que eles estão fazendo é abrir o olhar para as próprias aptidões e para outras carreiras”, diz Aurea Imai, headhunter e sócia da Boyden Executive Search. “A vantagem de ser pioneiro é que seu preço é o maior.”

E, já que estamos falando de salário, vamos a ele. Esse é um dos quesitos que mais chamam a atenção dos jovens executivos que chegam ao mercado. Não há uma tabela de preços pelo serviço a ser cobrado, então os valores variam muito. Mas agenciar um blogueiro rende um percentual sobre o que ele está vendendo. Um post no Instagram, por exemplo, pode custar até 10 000 reais. Se for um vídeo, esse valor chega a ser multiplicado por cinco, dependendo da fama do influenciador. Um agenciador dificilmente trabalha com apenas uma celebridade, normalmente ele tem uma carteira de profissionais. Assim, ele consegue minimizar riscos e aumentar ganhos, como em qualquer outro segmento. A receita de quem está iniciando e não tem muita experiência começa em cerca de 5 000 reais e pode chegar a 20 000 reais ou até mais, sempre dependendo da credibilidade do influenciador.

Negociação e atenção 

Para trabalhar como estrategista de webcelebridades, é preciso ser um bom negociador. Afinal, esse profissional negocia posts que podem ser por foto ou vídeo, aparições em festas e garante a ida do famoso na loja que está sendo divulgada, por exemplo. Também ajuda a direcionar a carreira do influenciador, informando se vale a pena ter a imagem veiculada a uma marca. É preciso ter conhecimento do público, mas o mais importante é conhecer o perfil do seu cliente. “Outro ponto é se relacionar bem. Nessa área, quem criar e mantiver relacionamentos fortes com os influenciadores ganha vantagens na negociação. É sempre uma troca”, afirma Leandro Bravo, de 36 anos, que há 16 anos trabalha com marketing digital e já passou por empresas de peso, como Ambev, Sony Mobile, Toyota, Unilever e IBM. 

Em abril, Leandro aceitou o convite para entrar no time da Celebryt’s, uma plataforma que consegue encontrar Youtubers de todos os tipos para uma campanha. A ferramenta tem uma busca por tags que ajuda a precificar o valor da divulgação do influenciador de forma automática. A invenção foi obra de Ariel Alexandre, de 33 anos, com 12 de experiência em internet, que estudou o mercado brasileiro e mundial para entender se haveria espaço para uma empresa desse tipo. “O setor amadureceu, mas ainda é complicado encontrar gente relevante de fato”, diz Alexandre.

Outra habilidade importante para quem quer entrar nesse nicho é enxergar o cliente como uma marca e entender que há uma gama de assuntos que cada um deles domina, de culinária a finanças pessoais. E é preciso ter bom olho para selecionar em quem vale investir, pois o valor das celebridades de internet está na credibilidade. Por isso, não adianta ter só um rostinho bonito ou um ótimo senso de humor – só sobrevive nesse meio quem tem algo relevante a dizer para o público que quer atingir. 

Quando não há esse pacote completo, a então celebridade corre três riscos: virar motivo de piada nas redes, perder seguidores e, consequentemente, perder anunciantes. Por isso, é essencial que o estrategista trabalhe de perto com seus clientes e aplique o conceito de “real-time marketing”, ou marketing de tempo real. “Amanhã o que foi anunciado hoje já está velho. A forma como vivemos, nos relacionamos e nos comunicamos mudou”, diz Ana Carolina Barbosa, da agência Cabrun! Conteúdos, de São Paulo. Assim, os bons estrategistas ficam atentos a tudo o que está acontecendo com a webcelebridade (que precisa alimentar as redes com novidades constantemente) e com os seus seguidores (que precisam de feedback o tempo todo). 

Um dos maiores agenciadores de webcelebridades tem tudo isso na cabeça. Fabio Utumi, de 47 anos, se formou em direito e exerceu a profissão por cerca de cinco anos. Mas em 2008 mudou de carreira, depois de conversar com um amigo que trabalhava na área de direito autoral. Fabio, então, criou uma agência e começou a trabalhar com comediantes que estavam despontando em stand up comedy, como Dani Calabresa e Robson Nunes. Ele chegou a ter mais de 40 humoristas com casting exclusivo, comercializando shows de humor por todo o país, realizando produções teatrais, além de negociar a imagem dos comediantes para campanhas publicitárias e eventos corporativos. 


No final de 2010, Fabio passou a agenciar quem se destacava na internet quando viu que o mercado de conteúdos patrocinados online estava em formação. “Nosso formato de trabalho alia a venda das mídias dos novos talentos com um planejamento de uso de imagem e organização de suas carreiras para atender as solicitações do mercado”, afirma Fabio. Atualmente, a IQ Agenciamento tem um time de 15 profissionais cuidando exclusivamente de seus agenciados, que conta com mais de 100 influenciadores – 40% exclusivos. Entre seus nomes de peso estão PC Siqueira, Cid Não Salvo e Manual do Mundo.

Embora não existam estimativas atuais especificamente sobre o setor de webcelebridades, acredita-se que a internet irá prosperar bastante nesse nicho. “O mercado de mídias digitais deve crescer 13% em 2016 e o faturamento online deve girar em torno de 76,6 bilhões de dólares no mundo”, diz Lucas Burza, sócio-fundador da Agência Linka, empresa especializada em mídia digital, marketing de performance e Search Engine Optimization (SEO), de São Paulo. A expectativa é um alento para quem busca uma alternativa de trabalho em um momento de crise. 


Esta matéria foi publicada originalmente na edição 214 da revista Você S/A com o título "Por trás dos cliques"

Você S/A | Edição 214 | Maio de 2016

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