Sentimento de pertencer
Saber gerir pessoas é muito mais do que delegar funções. E preparar lideranças para o futuro das cooperativas é essencial para o sucesso do Sistema
Nunca seduza uma
pessoa para trabalhar na sua empresa, faça com que ela deseje fazer parte da
sua equipe.” A frase da especialista em gestão de carreira Madalena Feliciano,
diretora do IPC (Instituto Profissional de Coaching), traz um ponto de vista
interessante a ser discutido no cooperativismo: você está pronto para assumir a
responsabilidade e o seu papel no Sistema? Nesse contexto incluímos acreditar
no movimento cooperativista, na sua filosofia de vida e de negócio, ter atitude
de dono e, principalmente, influenciar positivamente todos aqueles que estão à
sua volta e, de certa forma, dependem de você.
Quando se ouve a
história de Suzana Knapp Pienez, é possível perceber cada uma dessas
características. A jovem está prestes a assumir a liderança da Assessoria de
Ação Educativa da Lar Cooperativa Agroindustrial, recebendo o bastão da
orgulhosa Carmem Tereza Zagheti Reis, que há anos prepara essa sucessão. Aos 13
anos, Suzana participou de um dos cursos que a cooperativa ofereceu aos jovens.
Se apaixonou e permanece na Lar até hoje. “Seu objetivo sempre foi se preparar
e sabia que, para isso, era fundamental participar. Assim o fez. Passou pela
liderança do Comitê Jovem e associou-se à cooperativa tornando-se produtora de
suínos. Como associada, seguindo a preparação e sem perder o foco, foi
coordenadora do Comitê Educativo Central. Dali para o Conselho Fiscal foi um
passo”, conta Carmem, que acrescenta: “Sempre disposta, disponível e
participante, com gosto e admiração pelas pessoas e pelo cooperativismo, aceitou
o convite para integrar a equipe de funcionários. Hoje, está na Assessoria de
Ação Educativa, seguindo o caminho com o foco sempre forte e consciente na
importância do cumprimento do quinto princípio do cooperativismo, que trata da
educação e formação”.
Todo esse processo só
foi possível por conta do projeto de desenvolvimento de lideranças que a Lar
cultiva há 39 anos. De acordo com Carmem, desde o início desse trabalho a
essência sempre foi capacitar pessoas para atuarem em todos os segmentos em que
estiverem. Por isso a preparação de lideranças acontece por núcleos nas
diversas áreas de atuação da cooperativa. “Os passos são dados em busca dessas
pessoas, pelos mesmos caminhos delas, falando a mesma linguagem e cativando-as
por semelhança”, explica. Os resultados foram sendo apresentados no decorrer
desse período e a diferença mais marcante desde a implantação do projeto é o
aumento da presença de mulheres e de jovens nas atividades da Lar, sobretudo
nas assembleias. “Isso nos mostrou que se sentiam parte do movimento
cooperativo. E com esse sentimento ele se fortalece, pois a presença das
pessoas é mais efetiva e afetiva.”
Programas como esse são cada vez mais necessários dentro do
sistema cooperativo, uma vez que a velocidade com que os cenários político e
econômico no Brasil mudam é assustadora. Se ajustar, ter visão de longo prazo,
criatividade e cultura de inovação não é mais um diferencial para o crescimento
do empreendimento, é o mínimo que se espera do Sistema que almeja ampliar suas
bases como modelo de negócio economicamente sustentável e socialmente
responsável.
E essa percepção tem se espalhado como ‘rastilho de
pólvora’ pelas cooperativas. A Cooper A1, por exemplo, faz a organização de seu
quadro social com Comitês de Lideranças em cada unidade, nos quais é definido
um associado líder para cada 50 cooperados. As ações de desenvolvimento são
realizadas por meio de reuniões e palestras, em que abordam questões como
proatividade, comportamento de assumir a responsabilidade e resolver os desafios
com antecedência, valorizar e motivar as pessoas pelo exemplo, integrar
equipes, etc.
Da mesma forma fazem diversas outras cooperativas. No
Sicoob Meridional, o Programa de Desenvolvimento de Lideranças foi implantado a
partir das necessidades identificadas no PEG (Programa de Excelência de Gestão)
promovido pela Ocepar (Organização das Cooperativas do Paraná). A capacitação é
dividida em quatro módulos, trabalhando comunicação eficaz, relacionamento
interpessoal, inteligência emocional, postura, visão sistêmica, planejamento
estratégico, entre outros. Segundo Sheila Capitanio, supervisora de
Administrativo e Financeiro e uma das participantes da turma que iniciou em
novembro último, o programa está contribuindo para sua tomada de decisões como
líder. “Acredito que minha equipe pode melhorar a excelência por meio da minha
qualificação”, afirma.
Processo
de sucessão
x
Promover esse desenvolvimento é o primeiro passo para
definir o rumo dos próximos representantes das cooperativas. Afinal, renovar
com qualidade é tão essencial para os negócios quanto oferecer um produto ou um
serviço de excelência. Na Lar Agroindustrial o assunto tem uma seriedade muitas
vezes maior do que em grandes multinacionais de sucesso.
Segundo Carmem Teresa, a cooperativa realiza bianualmente
eleição de lideranças por atividade, cujo resultado forma o Comitê Educativo
Central, grupo consultivo que representa todos os associados e setores. Em
paralelo, o mesmo processo é feito com mulheres e jovens, formando comitês
exclusivos. “Esses três grupos recebem formações específicas, com mais
oportunidades de se prepararem para gerir a própria cooperativa, além da
propriedade e da comunidade”, explica a assessora, ressaltando que vale lembrar
que “as formações precisam de tempo e ser focadas nas reais necessidades de
ambas as partes. Nada de qualidade é feito sem demandar tempo, investimento e
sacrifício”.
Uma ferramenta muito utilizada na atualidade para essa
qualificação é o coaching, metodologia que busca atender algumas necessidades
humanas, dentre elas atingir metas, solucionar problemas e desenvolver novas
habilidades. De acordo com Madalena Feliciano, do IPC, é um processo de
aprendizagem e construção de competências comportamentais, psicológicas e
emocionais. “É uma ferramenta transformadora, porque promove o autoconhecimento
e o crescimento constante dos colaboradores daquela pessoa”, enfatiza. “Mais do
que o compromisso com os resultados, o coaching converte intenções e desejos em
ações consistentes e constantes.”
Passar por um processo desse, aliás, pode contribuir muito
para identificar nos aspirantes a líderes uma carência bastante reconhecida nos
últimos tempos. Segundo o especialista em gestão e liderança Renato Grinberg,
diretor da consultoria BTS, no mundo corporativo é muito comum a falta de
capacidade desses profissionais em ouvir os colaboradores antes de se
posicionar. “Além de construir uma boa equipe de trabalho, um bom líder sabe
mantê-la. E para isso é necessário lembrar que a posição hierárquica não é
determinada apenas pelo cumprimento de metas. Aquele que está em um cargo de
liderança deve, acima de tudo, estabelecer parcerias com os colegas e trabalhar
em conjunto, valorizando colaboradores e preocupando-se com o seu bem-estar.”
Grinberg ressalta, também, que saber ouvir dá condições de outras pessoas
criarem empatia, faz com que um líder aprenda e, consequentemente, se
desenvolva mais.
Além disso, cria um ambiente de trabalho aberto às novas
ideias e projetos modernos e arrojados. E por que isso é tão importante? Porque
a concorrência mundial está cada vez mais acirrada e para se destacar é preciso
fazer diferente. O tema, aliás, foi parte do último Unimed Talks, encontro
realizado pela Unimed Londrina em novembro. Omar Taha, presidente da Singular,
reuniu os colaboradores para compartilhar um pouco dos ensinamentos que recebeu
durante o curso Leading Innovation, do MIT (Massachussets Intitute of
Technology) em Boston (Estados Unidos). Taha falou de difusão de conteúdos para
formação de ambientes inovadores, liderança de equipes com capacidade de
inovação e estimulo à inovação dentro do ambiente de trabalho, e enfatizou que
a criação de uma cultura neste sentido só é possível diante de um ambiente
propício para isso. “Identificar os problemas que a empresa enfrenta é fundamental
para alcançar a inovação”, pontua.
Comentários
Postar um comentário